Como?
A partir do resgate e adaptação de um método fotográfico histórico designado antotipia, a artista desenvolveu um processo de geração preservação de imagens sobre faiança. A cerâmica torna-se fotossensível, quando revestida por uma ‘emulsão fotográfica’ extraída de plantas, sendo que esta sensibilidade à luz provém de pigmentos fotossintéticos, presentes em folhas, flores ou vegetais. A cerâmica realiza depois o seu processo de ‘fotossíntese’, onde a capacidade alquímica do sol permite a tradução da energia de outra forma – criando imagens monocromáticas na superfície cerâmica através da impressão por contacto direto. O tempo de exposição das imagens depende da planta utilizada para produzir a emulsão e das condições meteorológicas existentes, podendo variar de minutos a semanas.
Esta forma de impressão produz imagens frágeis, difíceis de fixar, que estão em constante transformação – a luz que permite que elas sejam vistas irá também destruí-las ao longo do tempo. Esta constante absorção de luz por parte dos objetos cerâmicos possibilita a abertura para outro processo exploratório: durante o processo da fotossíntese, as plantas não absorvem a luz na sua totalidade, nem de forma igualitária – é possível mimetizar esta captura natural da luz usando filtros de iluminação coloridos, que bloqueiam ou transmitem apenas determinados comprimentos de onda de luz para as peças cerâmicas (transmissão seletiva). Cada cor de filtro influenciará a intensidade das cores das imagens, em diferentes percentagens, e, enquanto uns retardam o seu desvanecimento, outros irão acelerá-lo.
Durante o mês de setembro, a Catarina este nas Oficinas do Convento a desenvolver a primeira parte da sua Residência Artística, onde foi feita uma leitura mais sensível da cidade através da observação e recolha de plantas em floração no espaço público de Montemor-o-Novo. Esta recolha teve como intuito fazer um pequeno estudo acerca da potencialidade corante destas flores, resultando num mapa de pigmentos que age como uma espécie de cartografia do território.
Num segundo momento iniciaram-se os testes para a formalização de um objeto cerâmico que fará parte da ‘caixa laboratório’. Este kit proporcionará uma nova experiência dirigida e mediada, que permite ao utilizador uma forma de participação livre e inventiva, onde é proposta a impressão de imagens em cerâmica a partir de ‘inputs’ naturais, enfatizando a necessidade de um maior entendimento acerca das plantas, do sol, das nuvens, etc. Nesta fase foi sobretudo explorada a relação funcional e estética do objeto cerâmico com os filtros de iluminação coloridos – estes filtros expandem o campo de experimentação e conhecimento gerado, uma vez que tornam visível o efeito que os diferentes comprimentos de onda de luz têm sobre cada planta (cada filtro preservará a cor da imagem em diferentes ritmos). Nesta fase foram feitas experiências acerca do movimento aparente do sol ao longo de um dia, investigando o resultado produzido pelas sombras dos filtros nas peças, nas próprias imagens e no ambiente onde está inserido.
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